4 Outubro 2021
Atualidade
“A transição digital não é só digital e exige três transformações essenciais: organizacional, cultural e pedagógica. Sem uma apropriação cultural das tecnologias nas escolas vamos ter apenas uma transformação rápida, que não transforma nada”. Este é o resumo da masterclass do Professor António Dias Figueiredo (Universidade de Coimbra), que podia ser de igual modo a súmula do programa do segundo dia da EDUsummit, organizado pela FNE, Universidade Aberta (UAb) e Afiet, que decorreu na manhã e tarde de 2 de outubro de 2021.
O programa do segundo dia começou com uma mesa redonda sobre “As lideranças educativas como potenciadoras de inovação”, composta por quatro oradores: Filinto Lima (ANDAEP), Leonor Lima Torres (Universidade do Minho), Nuno Fraga (Universidade da Madeira) e Rodrigo Queiroz e Melo (CNEF- Confederação Nacional de Educação e Formação). Numa moderação a cargo de Cláudia Neves (UAb), a mesa redonda refletiu sobre o papel das lideranças educativas como meio de gerar inovação, sublinhando os seus limites e potencialidades no contexto escolar. Os oradores desta mesa redonda focaram-se também nas diferenças entre aquilo que já sabemos e na realidade que temos na educação em Portugal, propondo caminhos a seguir de futuro.
Centrando-se depois na intensificação das incertezas, riscos e imprevisibilidades, a mesa redonda deteve-se nos fatores em que as lideranças podem fazer a diferença, analisando possíveis cenários em aberto na pós-pandemia. Filinto Lima enfatizou vários constrangimentos no funcionamento das escolas, realçando a falta de atratividade para diretores e professores, os recursos cada vez mais parcos, a falta de confiança da tutela, uma diminuta autonomia ou as injustiças no processo de avaliação, quer de diretores, quer de professores.
Rodrigo Queiroz e Melo acentuou que inovar é tornar novo de forma intensiva, que a Educação não pode continuar espartilhada e que a diversidade de professores é positiva para o sistema educativo. Por seu lado, Nuno Fraga concluiu a sua apresentação lembrando que uma liderança distribuída é sempre catalisadora da participação e da corresponsabilidade, com resultados significativos para uma educação de qualidade.
Pelas doze horas, a EDUsummit ofereceu duas salas simultâneas, a primeira das quais sob o lema “Pensar a Educação fora da escola”. Aqui foram protagonistas Margarida Mano (Universidade Católica) e o Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, moderados pela jornalista e escritora Manuela Goucha Soares. Os oradores consideraram que o blended learning (combinação entre o presencial e o digital) veio para ficar e que a qualidade educativa vai ter muito que ver com manter e reforçar, cada vez mais, o papel da formação e da educação com um bem comum. Com uma jornalista na sala, debateu-se igualmente o papel do jornalismo na educação, exigindo-se uma escola forte e um cada vez maior cumprimento do exercício de cidadania por todos.
Na segunda sala simultânea conviveram José Matias Alves (Universidade Católica) e António Nunes (Centro Internacional de Ensino e Investigação Fernão de Magalhães), com moderação de Graça Moura, Diretora do AE André Soares, de Braga. O tema foi aqui sobre “Pensar o aluno como construtor da sua própria aprendizagem”. José Matias Alves centrou a sua apresentação na relevância de se dar voz ao aluno, relevando que a avaliação não é um fim e que urge que professor, aluno e escola aprendam os sentimentos vividos, sublinhando as lições transmitidas pelo cientista António Damásio sobre a importância das emoções.
António Nunes frisou que ainda vivemos a herança da grande transformação do século XVIII e abordou as razões por que ainda fomos capazes apenas de tão poucas mudanças. Em sua opinião, existe uma ignorância da construção da profissão docente e defendeu a urgência do regresso dos pedagogos à escola. Para António Nunes temos que acabar com a “ignorância espalhada” em inúmeros compartimentos, melhorando o “ambiente educativo”, que deve ser “produtivo, e não reprodutivo”. Respondendo aos participantes, José Matias Alves referiu que “a matriz da escola é de separação (salas, tempos, turmas, departamentos…)”, pelo que só a proximidade e a atenção aos outros “curarão todas as feridas”. Para ele, 50% do currículo tem de ser interdisciplinar e transdisciplinar e o triângulo currículo, professor e aluno tem que estar sempre em sintonia.
Não chega ter equipamentos
O período da tarde abriu com a segunda mesa redonda do dia, dedicada à “Transformação, diversidade e inclusão em Educação”, com moderação de Rui Maia (Universidade Fernando Pessoa). Joaquim Pintassilgo (Universidade de Lisboa) abordou os caminhos que a inovação pode seguir no sistema educativo, realçando a pluralidade de modelos que daí podem advir. Joaquim Pintassilgo deixou a mensagem de que “não há inovação sem tradição” e que temos que valorizar o ensino intelectual, mas também a parte física, as regras de cidadania e a responsabilidade para com a Natureza. No fundo, “ver a inovação como um compromisso ético e social para o futuro”.
Em seguida Teresa Alvarez (Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género) ofereceu o seu contributo sobre a dimensão da inclusão, fatores de não inclusão e o momento de viragem que aconteceu em 2017, quando as políticas educativas convergiram com as de igualdade. José António Moreira (Universidade Aberta) fechou esta mesa redonda, apresentando as linhas principais do seu projeto relativo à integração de questões educacionais em ambiente prisional. Para este especialista, é possível – com resiliência – alcançar realidades digitais que muitos consideravam praticamente impossíveis, tais como a criação e aplicação de um campus virtual que permite a integração de indivíduos em regime prisional, em turmas para aprendizagens de 2º e 3º ciclo.
Pelas 16h00 decorreu a segunda masterclass da EDUsummit, sobre “Transformação digital e Inovação”, protagonizada por António Dias Figueiredo, com moderação de Diogo Casa Nova (UAb). Reconhecido como um dos maiores especialistas nacionais e internacionais em transformação digital e inovação, António Dias Figueiredo defendeu que o smartphone é um instrumento pedagógico universal de grande potencialidade (para crianças, jovens e adultos) e que – aludindo ao Portugal Digital e ao Plano de Resolução e Resiliência – as grandes transformações não se fazem apenas com equipamentos. O reputado educador sublinhou que “temos que assumir uma disrupção permanente” e ao fechar a sua aula recordou a famosa resposta do professor universitário norte-americano Bill Gibson, segundo a qual “o futuro já chegou, está é mal distribuído”.
O dia fechou com uma terceira mesa redonda, com Luísa Lebres Aires (UAb) e Leandro Silva Almeida (Universidade do Minho), repetindo o tema da masterclass anterior, mas desta feita com moderação de Fernando Caetano (UAb). A professora da UAb defendeu a formação para professores a distância, criticando a forma como tudo durante a pandemia esteve virado para culturas pedagógicas, forçando os professores a descobrir metodologias e ferramentas para alcançar algo que, para muitos, era impensável, sendo preciso criar uma cultura de escola e empoderar os professores. Já Leandro Silva Almeida reforçou a potencialidade das ferramentas digitais no processo de ensino-aprendizagem. Em sua opinião, a pandemia aproximou famílias e escolas e é fundamental que isso continue a acontecer: “Temos de alcançar vitórias nos desafios relativos à eficiência e eficácia na aprendizagem. Temos necessidade de inovação pedagógica. Os alunos já não vivem sem tecnologia e é preciso mudar a escola e tornar a carreira de professor aliciante”.
A EDUsummit encerra no domingo, 3 de outubro, com uma apresentação de conclusões por Alberto Marques Alves (Universidade do Porto).
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