31 Julho 2023
Atualidade
O excesso de trabalho e a carga burocrática foram novamente consideradas as principais preocupações dos educadores e professores portugueses, na Consulta Nacional online que a FNE realizou entre os dias 30 de junho e 7 de julho de 2023 e que obteve o recorde de 3.482 respostas. Quanto ao maior problema a que tiveram que responder no ano letivo de 2022-2023, a resposta escolhida por um elevado número de profissionais foi a quantidade de trabalho administrativo, seguido da conciliação do tempo de trabalho com a vida pessoal e familiar. À pergunta sobre qual deveria ser a maior prioridade de investimento do Governo, as escolhas foram claras: no reforço do pessoal docente e de apoio educativo das escolas.
A Federação Nacional da Educação (FNE) promoveu, entre 30 de junho e 7 de julho de 2023, uma Consulta Nacional online, destinada a todos os Educadores e Professores do Continente e Regiões Autónomas, com o objetivo de conhecer a sua avaliação sobre as Condições de Trabalho do ano letivo que está agora a terminar. Desta forma, a FNE repetiu iniciativa idêntica lançada no final do ano letivo de 2020/2021, quando procurou saber em que condições tinha decorrido o regresso ao ensino presencial, assim como no final de 2021/2022, para avaliar as condições desse período.
Registaram-se este ano 3.482 respostas, o que significou um crescimento de 30,0% em relação à consulta idêntica realizada no final do passado ano letivo, que obteve 2.668 respostas. O crescimento é ainda maior em relação à consulta de 2020/2021, com 1.208 respostas.
A presente consulta apreciou as dimensões “Bem-estar e Desenvolvimento profissional”, “Condições para o processo Ensino-Aprendizagem”, “Apoio a alunos refugiados/imigrantes”, “Condições de trabalho” e “Formação Contínua” (semelhantes às do ano transato) e em substituição da dimensão “Transferência de Competências para as Autarquias” a FNE optou pela dimensão sobre “Administração e Gestão das Escolas”.
A Consulta Nacional de 2023 procurou estabelecer um paralelismo com questões tratadas nas consultas anteriores, embora nalguns casos as formulações das perguntas não tenham coincidido exatamente. Deste modo, acentuar-se-á a comparação apenas nas circunstâncias em que se identifica uma maior proximidade das perguntas apresentadas.
No âmbito da caracterização, a maioria dos respondentes trabalha na zona norte (40,9%), seguindo-se, por ordem decrescente, os da zona de Lisboa e Vale do Tejo (23,4%), da zona Centro (20,3%), das zonas do Alentejo e do Algarve (12,2%), pertencendo os restantes 3,2% às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
O Nível de ensino em que trabalha a maioria dos respondentes é no 3º ciclo e no ensino secundário (28,8%), seguindo-se (25,2%) os que trabalham nos 2º e 3º ciclos; os do 1º ciclo correspondem a 20,9%; 11,6% integram-se no ensino secundário; correspondendo 7,8% aos Educadores de Infância e 5,7% a docentes de Educação Especial, com a maioria (97,2%) a trabalhar no setor público e com nova maioria de mulheres (77,0%) e 22,5% de homens.
Relativamente à idade, 46,2% dos respondentes situam-se entre os 50 e os 59 anos e 32,6% entre os 40 e os 49 anos; 16,9% têm mais de 60 anos. Relativamente a anos de serviço 42,8% têm entre 21 a 30 anos de serviço, 21,7% situam-se entre os 31 e 35 anos e 14,7% têm mais de 36 anos. 74,7% dos respondentes são sindicalizados e 56,2% afirmam serem sindicalizados em sindicatos da FNE.
Diminuir a burocracia é urgente
Sobre o maior problema que teve de enfrentar no ano letivo que está a terminar, é muito significativo o número dos que escolhem a quantidade de trabalho administrativo (30,6%), havendo depois 25,4% que assinalam como maior problema a conciliação do tempo de trabalho com o tempo pessoal e familiar. É de 11,8% a percentagem dos que referem como maior problema o número de alunos com que teve de trabalhar e é de 10,8% a percentagem dos que referem a (in)disciplina na sala de aula.
No questionário deste ano, introduziu-se uma questão nova sobre o que gostaria de fazer nos próximos cinco anos e 45,1% afirma que deseja continuar a dar aulas, por se tratar daquilo de que gosta. Apenas 14,5% afirma que deseja aposentar-se, ainda que antecipadamente, e 12,7% deseja aposentar-se dentro dos próximos cinco anos.
Repetiu-se este ano a questão da qualidade da relação das Famílias com os Docentes, tendo 44,2% afirmado que ficou na mesma, mas 42,9% revela que piorou e piorou muito.
Esta consulta solicitava também que os respondentes assinalassem o seu nível de preocupação em relação à progressão na carreira e é muito significativo o número dos que se dizem extremamente preocupados, seja em função do nível de ensino, seja em função da idade, seja em função do tempo de serviço. Este nível de preocupação é acentuado em dois grupos de tempo de serviço: no grupo dos 21 a 30 anos e no dos 31 aos 35.
A maioria dos participantes (77,7%) assinala que nas suas escolas foram estabelecidos planos de recuperação das aprendizagens, sendo de assinalar que 10% afirma que nas suas escolas esses planos não foram estabelecidos. Aqui também os resultados são coincidentes com os da consulta de 2022.
Cresce este ano, no entanto, a percentagem dos que afirmam que a escola não teve acesso a todos os recursos de que precisou para concretizar os seus planos de recuperação: são 41,6% este ano, contra os 36,2% do ano passado.
É muito clara a maioria (55,3%) que afirma que não teve acesso aos apoios de que precisou para o trabalho que desenvolveu com os seus alunos, o que confirma idênticos valores obtidos na consulta do ano passado. Em ambos os casos, os valores pioraram em relação à consulta de 2020/2021, em que 36,6% tinha afirmado não ter tido acesso a esses apoios.
Os efeitos negativos da insuficiência de professores para os alunos foram assinalados por uma significativa maioria de 57,2%, ainda mais forte do que no ano passado, que tinha sido de 51,6%.
Reforçar docentes e pessoal de apoio educativo
Como novidade, o questionário deste ano incluía uma pergunta sobre qual seria a maior prioridade se o Governo quisesse investir mais em Educação. As escolhas foram claras na escolha da necessidade do reforço de profissionais da educação, quer docentes, quer de pessoal de apoio educativo.
83,1% dos participantes confirmam que nas suas escolas há alunos refugiados/imigrantes e, na sua maioria, classificam positivamente o apoio dado a esses alunos (53,5%). Na consulta do ano passado, apenas 66,2% tinham assinalado que nas suas escolas haveria alunos refugiados/imigrantes.
32,4% dos respondentes assinalam que a mudança mais desejada a ocorrer nas suas escolas seja a diminuição da quantidade de trabalho administrativo, a que se somam os 24,0% que escolhem a opção “Ver respeitados os limites do meu tempo de trabalho”. Por seu lado, 11,4% desejam a diminuição do número de horas de trabalho direto com os alunos e 18,4% preferem assinalar a necessidade de se diminuir o número de alunos com que trabalham.
Em relação ao funcionamento da componente não letiva de estabelecimento, 45,9% consideram-na adequada, embora sejam maioritários (54,1%) os que afirmam que é pouco ou nada adequada.
Mais uma vez é significativa este ano (88,5%) a percentagem dos que afirmam que tiveram acesso a formação contínua. Tinha sido de 88,2% em 2021/2022. É de salientar o número de respondentes que afirma que a formação contínua que frequentou serviu para melhorar o seu desempenho profissional – 56,8%. Volta a ser significativo – 68,0% - o número dos que tiveram de pagar para frequentar ações de formação contínua.
Professores de costas voltadas para o Conselho Geral
A dimensão da Administração e Gestão das Escolas foi uma novidade na consulta deste ano e permite-nos uma primeira abordagem a esta área do sistema educativo. É muito significativo o número dos que não concordam com o atual modelo de administração e gestão as escolas: 69,0%. É de idêntica dimensão os que preferem um órgão de gestão colegial, em vez de unipessoal: 66,3%.
Não se pode deixar de assinalar a percentagem dos que afirmam não ter opinião sobre esta matéria (27,9%), sendo que é claramente negativa a apreciação da intervenção do Conselho Geral para a gestão das escolas. Na realidade, 57,0% avalia negativamente a utilidade desse órgão, sendo também maioritária a afirmação de que a composição do Conselho Geral não é adequada (56,3%).
Consulte aqui o Relatório da Consulta Nacional de julho 2023 com todos os resultados e análises
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