Uma brilhante análise de apresentação de conclusões, feita pelo Professor Luís Alberto Marques Alves (Universidade do Porto), marcou o terceiro e último dia da primeira edição da EDUsummit 2021, uma organização tripartida da Federação Nacional da Educação (FNE), Universidade Aberta (UAb) e Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET), que reuniu 50 oradores, académicos, investigadores, educadores, professores e sociedade civil, num total de mil participantes.
O programa de domingo de manhã começou com uma mesa redonda sobre “Formação de Professores”, que juntou Isabel Alarcão (Universidade de Aveiro), Rui Trindade (Presidente do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua – CCPFC, do Ministério da Educação) e Maria Pacheco Figueiredo (Escola Superior de Educação de Viseu), moderados por Ana Mouraz (UAb). Isabel Alarcão, nome incontornável da formação de professores em Portugal, foi buscar as palavras de António Nóvoa, sobre um tempo, que é o nosso, “que exige um relacionamento novo com tudo”, inclusive com a formação inicial e contínua de professores.
Depois de felicitar a ideia da EDUsummit e o modo como decorreu, Isabel Alarcão caracterizou os tempos de pandemia e os muitos fatores de que tomámos consciência, como a fragilidade dos humanos, a importância da Ciência e dos cientistas, a espontaneidade da entreajuda, a capacidade de adaptação da escola e dos Professores ou a importância do triângulo Escola-Família-Autoridades Locais. Falando das implicações de um mundo volátil, complexo e ambíguo na formação de professores, Isabel Alarcão salientou que os professores têm que aprender a reestruturar os saberes inerentes à sua profissão (científicos, pedagógicos e tecnológicos) e a desenvolver uma melhor mediação entre o saber e o aluno. Mas devem também reimaginar a educação, fazer ajustes no perfil do professor e perceber que o seu papel no mundo em transformação os torna potenciais transformadores.
Em seguida, Rui Trindade (que apelidou Isabel Alarcão como “a voz de todos nós”) apresentou o seu contributo para uma reflexão em torno da formação contínua de professores, começando por abordar até que ponto é que aquela poderá contribuir para o desenvolvimento da literacia curricular e pedagógica dos docentes, que lhes permite identificar as suas possibilidades de intervenção como professores. O Presidente da CCPFC centrou depois a sua análise na problemática do conhecimento profissional dos docentes e nas implicações ao nível do perfil dos formadores quando o tema é a literacia curricular e pedagógica de professores. Para Rui Trindade, os professores são muito importantes para a construção do conhecimento profissional e a profissão docente não tem necessariamente que ficar inscrita num clima de conflito e mal-estar.
Pensar a formação inicial de professores foi o tema abordado por Maria Pacheco Figueiredo, que sublinhou que é necessário valorizar os passos que se tomam de estudante até professor e usar “todo o património que o ensino nos oferece”. Em seu entender, é urgente convocarmos uma atitude investigativa, a produção de conhecimento e uma autoria/posse, que precisa de estar mais presente na formação inicial: “A investigação ajuda a identificar e criticar o conhecimento. Por isso, temos de formar professores que reproduzam o conhecimento, porque a posse de um saber distinto é uma característica das profissões”.
Maria Pacheco Figueiredo acentuou que temos de ter professores que, mesmo com poucos recursos, abram uma janela para o futuro e deixem outros entrar. O refazer das nossas práticas deve assim ser feito “em companhia”, pois como escreveu Stenhouse em 1975 “os professores devem possuir a capacidade para o desenvolvimento profissional autónomo através do estudo sistemático das suas práticas e do trabalho de outros professores”, assim como através do questionamento e verificação de teorias com base em procedimentos de investigação na sala de aula. Na resposta a questões dos participantes, Isabel Alarcão sublinhou que “quanto a acrescentar disciplinas na formação inicial penso fora da caixa, pois duvido da sua eficácia”. Quanto à atitude investigativa, Isabel Alarcão reforçou que aquela deve estar presente em todas as disciplinas. Por seu lado, Rui Trindade frisou que os professores deveriam ter tempo para pós-graduações e que devíamos desligar a avaliação de desempenho da progressão de professores.
Pelas 11:30 a EDUsummit ofereceu a última Edutalks, desta feita sobre “Tecnologia ao serviço da educação”. Pedro Barreiros (FNE/AFIET) moderou o debate entre Sérgio Tenreiro Magalhães (Champlain College, Vermont – EUA) e Pedro Duarte (Microsoft). Sérgio Tenreiro começou por delinear o terreno do Treino e o Terreno da Educação da Portugal, referindo que o papel do educador tende a ser pequeno e isso tem de ser mudado. No fundo, acabamos por ser mais treinados que educados, parecendo que tudo é feito por obrigação, e não para valorização do indivíduo. Sérgio Tenreiro salientou as oportunidades trazidas pela tecnologia e questionou o papel de algumas grandes empresas, que estão a entrar no mercado da formação, num confronto económico muito desigual para a maioria das instituições de ensino superior.
Por seu lado, Pedro Duarte debateu o impacto da evolução da tecnologia na sociedade, que teve uma revolução de velocidade e de abrangência muito grande nos últimos anos. A evolução atinge todos os setores, pelo que se torna indispensável traçarmos um rumo para o que queremos do ensino e educação e o que pretendemos da própria tecnologia. O futuro requer uma necessidade de atualização permanente e é necessário dotar as crianças de flexibilidade cognitiva e mentalidade crescente. Para Pedro Duarte, a tecnologia tem de servir para aumentar o potencial humano. E isso é alcançável “através de ensino a distância, salas mais modernas e um ecossistema mais colaborativo”.
O encerramento deste evento coube a Luís Alberto Marques Alves (Universidade do Porto), que apresentou, com brilhantismo, as conclusões desta primeira edição da EDUsummit. Mereceram destaque na sua análise as grandes questões levantadas ao longo dos dias 1, 2 e 3 de outubro de 2021, resumidas no tema globalizante da EDUsummit “Inovar, Potenciar, Transformar, Pensar a Educação no Pós-Pandemia” e fortemente aplaudidas pelos participantes no Bate-Papo da plataforma. O Professor Alberto Marques Alves deixou um pedido: que para o ano se dê uma voz forte aos alunos, para percebermos o que verdadeiramente eles pretendem da escola. A terminar registou um grande elogio à organização da FNE, UAb e AFIET, também pela ousadia que souberam demonstrar.
A EDUsummit fechou com um pequeno vídeo de encerramento, que lançou desde logo o convite para a II edição em 2022.