Mais de 80% dos professores consideram que as tarefas burocráticas que realizam nas escolas são geralmente inúteis, perdendo tempo que poderiam dedicar aos alunos, segundo um inquérito realizado pela Federação Nacional de Educação (FNE).
“Verificámos que mais de 80% dos respondentes dizem que as tarefas administrativas a que são obrigados nas escolas são geralmente inúteis ou, na maior parte das vezes, são inúteis”, revelou hoje o secretário-geral da FNE, baseando-se nas respostas de 2.668 docentes a uma consulta nacional realizada no início do mês.
Os professores “elegeram o excesso de trabalho e a carga burocrática como a sua maior preocupação ao terminar este ano”, disse João Dias da Silva, acrescentando que este é um problema mais apontado pelos docentes do ensino secundário e menos pelos professores do 1.º ciclo.
Sobre o tipo de trabalho que os professores consideram “inútil”, João Dias da Silva deu como exemplo o preenchimento obrigatório de “dezenas de plataformas, onde se repetem dados informativos sobre as escolas e sobre os alunos”.
Segundo queixas de docentes, muitas dessas tarefas são “repetitivas e sobrepõem-se umas às outras”.
“Temos muitas dúvidas sobre os efeitos práticos dessas plataformas e temos notícias de que depois do acesso à plataforma e depois de tudo feito ‘online’, tem de ser repetido em suporte papel”, contou.
O secretário-geral alertou para o facto de “o excesso de trabalho burocrático” acabar por “limitar e distrair os professores para o que é essencial”, que é estar a ensinar os seus alunos.
“Os professores chegam ao final do ano com um cansaço acumulado. Todos os dias, todas as semanas são obrigados a trabalhar para além dos limites do que está estabelecido na lei. Os professores ultrapassam largamente as 40 horas semanais”, disse, garantindo que muitas vezes estão noite dentro a preencher plataformas.
Por isso, os professores pedem que o próximo ano letivo “haja respeito pelos limites do tempo de trabalho” e uma “diminuição da quantidade do trabalho administrativo”.
À carga de trabalho administrativo e burocrático, os docentes somam a “insuficiência de recursos disponibilizados”.
“A sensação que as pessoas têm é a de que existindo planos, projetos e atividades o que acontece e que não têm acessos a recursos indispensáveis para que possam trabalhar com os alunos”.
Outro dos problemas apontados pelos inquiridos foi a falta de professores, com “mais de metade dos respondentes a dizer que há claramente um efeito negativo para o progresso dos alunos devido à insuficiência de professores nas suas escolas”, alertou João Dias da Silva.
Sobre as expectativas para o próximo ano, João Dias da Silva defendeu que o ideal seria que “todos os alunos tivessem todos os seus professores”.
Era também importante que “os professores recebessem horários que respeitassem os limites legais”, que não fossem “chamados para tarefas inúteis” e que houvesse pessoal não docente suficiente para assegurar o funcionamento das escolas: que “as bibliotecas e papelarias funcionem, que haja controlo nas entradas dos alunos e nos recreios das escolas”.
No entanto, continuou: “O que antevemos é que vamos repetir no início do ano aquilo que são os erros e as falhas que marcaram os anos anteriores”, porque “nada foi feito”.
A FNE considera que “ainda há tempo” da parte do Governo para tomar algumas medidas, como é o caso dos docentes colocados longe das residências ou a eliminação de “procedimentos burocráticos inúteis”.
Outra das medidas que a FNE gostaria que a tutela tomasse ainda este ano era permitir a progressão ao 5.º e 7º escalões de todos os professores em condições de tempo e avaliação de desempenho.
“Era uma forma de reconhecimento do trabalho dos professores”, disse, acrescentando que no futuro gostaria de ver eliminadas as vagas de acesso àqueles dois escalões.
SIM // HB
Lusa