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X Convenção da FNE, CONFAP e ANDAEP: Proteger, Transformar e Valorizar a escola e os professores


7 Março 2022

Destaques

X Convenção da FNE, CONFAP e ANDAEP: Proteger, Transformar e Valorizar a escola e os professores

A X Convenção da FNE, CONFAP e ANDAEP, que decorreu a 5 de março de 2022, em formato híbrido, presencialmente nas instalações da Tecmaia, em Moreira da Maia, procurou respostas e soluções para uma escola que desconhecemos e que o futuro exige que seja mais inclusiva, transversal e humanista, pois, como definiu António Nóvoa “Este é o momento de aplicarmos o que aprendemos com a pandemia e aproveitar essa partilha".


Mas antes da intervenção do antigo Reitor da Universidade de Lisboa, coube aos organizadores deste evento as primeiras palavras introdutórias. Jorge Ascenção (Presidente da CONFAP) recordou que "estamos sempre com o pensamento no avançar para resoluções que melhorem a educação", com João Dias da Silva (Secretário-Geral da FNE) a corroborar desta ideia e acrescentando que "mais do que pensar no que acontece dia a dia, é preciso pensar no amanhã e em todos os profissionais da educação envolvidos no sistema educativo". Filinto Lima (Presidente da ANDAEP) deixou inicialmente palavras para a situação da Ucrânia elogiando "o tsunami de solidariedade que se tem verificado nas escolas portuguesas" e lembrou "a importância de se ouvir o que os alunos têm para nos dizer sobre a escola".

A Vereadora da Educação da CM Maia, Emília Santos, marcou também presença no início do evento garantindo que no Município da Maia "a Educação é uma bandeira, uma prioridade", deixando ainda elogios a Marco Bento, outro dos oradores convidados no evento "e que tem tido um papel fundamental na aplicação de novos processos de ensino nas escolas da Maia, através de um projeto inovador, o SuperTabi. E esta é, provavelmente, a melhor fase para se aplicar novas ideias aproveitando a boleia que a transição digital está a criar nos pós pandemia. A educação não permite experiências da moda. Exige trabalho coletivo. Gosto muito de lembrar a frase 'é preciso uma aldeia para mudar uma criança'.  E outro ponto que deixo aqui em jeito de alerta, e que é preciso dar muita atenção, é relativo à saúde mental das escolas. Temos de perceber como está a saúde mental de todos nas escolas".



"O tempo da transformação já chegou"

Depois, tempo para a intervenção de António Nóvoa. O ex-Reitor da Universidade de Lisboa deixou largos elogios ao título desta X Convenção, catalogando-o de "brilhante, porque temos de conhecer a escola que aí vem, viver o futuro, mas perceber que isso vai ter de envolver toda a gente". António Nóvoa catalogou de "delírios futuristas" as ideias de que a escola pós pandemia "ia acabar. Temos de criar novos ambientes educativos. A sala de aula tem muitos limites, mas também muitas potencialidades", realçando depois a importância de "Proteger, transformar e valorizar o trabalho dos professores. Educação só com tecnologia é um sonho perigoso. É urgente apostar na formação de professores, na formação contínua e na revisão do sistema de avaliação de docentes".

O antigo embaixador de Portugal junto da UNESCO destacou na sua intervenção uma ideia que guiou o resto das intervenções neste evento: "Esta transformação da escola já existe em todo o mundo. Não é utópico. E essas mudanças existem graças ao trabalho de todos. Por isso o ponto central é valorizar aquilo que já se faz hoje. E este é o momento! Aproveitar o que aprendemos com a pandemia, valorizar o que já se faz e não esperar o que pode vir", realçando depois a importância de vários pensamentos publicados no terceiro Relatório promovido pela UNESCO sobre o futuro da Educação no mundo (2021).

Neste documento, procura-se repensar juntos o futuro, considerando que apenas com diálogo conjunto se conseguirá alcançar soluções, tendo participado neste relatório cerca de um milhão de pessoas que deixaram o seu contributo na busca por um futuro melhor para a escola. "Falamos de futuros, de escolas, de projetos e realidade diferentes. É preciso um novo contrato na diversidade e o melhor é dar liberdade a todos para lançarem dinâmicas diversas, estimular e refazer o que já sabemos. Este relatório é um pontapé de saída, mas a minha opinião é que se ficarmos à espera de reformas educativas estamos perdidos. A solução está em nós", considerando ainda que "com a pandemia percebeu-se ainda mais que nada substitui o professor. E atrevo-me a terminar dizendo que é muito provável que as escolas mudem mais nos próximos 20 anos do que mudaram nos últimos dois séculos. É agora o tempo da transformação para melhorar a escola e toda a comunidade educativa".

Seguiu-se o primeiro painel de comentadores, com Maria João Cardoso (FNE) a abrir este ponto. A vice-presidente do Conselho Geral da FNE reforçou o papel vital da educação e da importância de saber lidar com a mudança, algo que "apenas se consegue com um novo contrato para a educação. A renovação passa por pedagogia curricular e por uma participação de todos no debate pelo futuro da educação, mobilizando todos para um novo rumo", afirmou.

Por sua vez, David Sousa, Vice-Presidente da ANDAEP, começou a sua participação com uma declaração de intenções: "Sou professor há mais de 40 anos. O meu sonho era ter como Ministro da Educação alguém com a visão do Professor António Nóvoa. Foi uma intervenção inspiradora. Esta ideia de que a escola tem de ser assente nas pessoas, mais humanista e com dinâmica de partilha, é crucial. Assim como alcançar conhecimento, autonomia e liberdade", disse.

Paulo Cardoso, da CONFAP, substituiu José Batalha que, por motivos de última hora, não pôde marcar presença, e defendeu que "deve existir uma reflexão entre todos os pares. Onde os pais têm mais intervenção as escolas são melhores. É preciso trabalhar o conhecimento e é importante que todos possam traçar um perfil para cada escola e que se valorize o que cada um oferece ao sistema", somando a isto "a avaliação é um problema. Os alunos só estudam para ter notas e depois não sabem viver socialmente".

Depois, voz aos mais novos. José Pedro Costa, aluno da Escola Secundária da Trofa, trouxe ao debate a questão dos exames nacionais, mas não só. Deixou também alertas para a luta por equidade, contra o bullying e a droga nas escolas, problemas que considerou "muito presentes e que é urgente atacar para resolver. Um caso de bullying, por exemplo, é sempre um caso a mais do que devia existir", revelando ainda que a Associação de estudantes a que pertence "realizou um inquérito online perguntando se a tecnologia ajudava na escola, sendo que a maioria assumiu que sim, mas que é preciso equipar as escolas com material de acordo com as necessidades". A fechar, José Pedro Costa deixou o alerta: "é preciso discutir a saúde mental dos alunos, que está em declínio. As notas sobem, mas a saúde mental desce", afirmou.

A manhã terminou com uma discussão em redor de algumas questões colocadas por convidados presentes na TecMaia e por outros que acompanhavam por ZOOM esta X Convenção.


O percurso da integração tecnológica

Marco Bento, Professor na ESE de Coimbra, foi o convidado da segunda parte desta Convenção. Numa apresentação dedicada à "integração tecnológica" começou por situar a forma como o espaço exterior das escolas pode ser adaptado, de forma a ser aproveitado, sendo que a essa integração da tecnologia tem de ter em conta esse espaço. Pegando depois no papel da pedagogia, Marco Bento deixou o recado: “temos de deixar os alunos ter espaço para criar, permitir o erro, de várias tentativas cada um vai acabar por fazer o seu caminho. A criatividade

só aparece com a experiência". Seguindo no tema da integração tecnológica, o coordenador do Projeto SuperTabi, nas escolas da Maia, foi ao encontro também de outras questões que atormentam o futuro da educação: o envelhecimento dos professores e a necessidade de envolver os docentes nesta integração, acrescentando um dado curioso: “os professores mais velhos são aqueles que mais usam a tecnologia. Mas para se alcançar uma integração maior, a sala de aula tem de permitir vários ambientes. A avaliação tem de se adaptar. E temos de ouvir os 'operacionais' que vão estar no terreno. É um erro massificar. Os alunos têm cada vez mais de se preparar para várias profissões e isso passa também, por exemplo, por uma maior participação das famílias".

Coube a Manuela Machado, Diretora da AE Soares dos Reis (VNG), o primeiro comentário à apresentação de Marco Bento. Mas primeiro ficou o elogio aos professores, pelo trabalho desempenhado durante a pandemia, seguindo-se a crítica às poucas condições que as escolas oferecem para as novas tecnologias e à falta de formação a professores e pais, concordando que "as tecnologias não substituem o professor, sendo sim um complemento". Já Fátima Carvalho, Secretária-Nacional da FNE, recordou que "a pandemia antecipou a integração digital e tudo teve de acontecer. O professor faz toda a diferença. Mas também aprendemos nestes últimos dois anos que se pode aprender a qualquer hora e a qualquer momento. Cabe aos pais e professores gerirem estas ferramentas de forma a irmos mais além".

Neste segundo painel de comentadores esteve ainda Olinda Almeida, aluna da Escola Profissional do Infante (VNG) que trouxe a perspetiva deste ensino no digital começando por deixar reparos "à má ligação dos serviços de internet na escola, que estão muitas vezes em baixo". Como aluna concorda que "o professor é insubstituível, mas também acho que a escola tem de mudar em muitas coisas, apontando o foco para matérias como a política, como fazer um currículo ou finanças. Eu não percebo nem sei o que é o IRS. Na minha opinião o desinteresse pela escola acaba por acontecer mais no ensino 'regular' do que no profissional, porque num - o 'regular' - os alunos chegam, sentam-se e têm notas. No profissional temos mais ação, mais prática. É preciso ouvir os alunos", deixou como repto a finalizar. Coube a Mariana Carvalho, Mestre em Saúde Ambiental, fechar este painel, mostrando ambição: "Pegando naquilo que o Professor António Nóvoa disse, espero que tudo mude não em vinte anos, mas já em dois anos. Acredito muito no poder transformador dos professores", finalizou.

Após um período de debate sobre questões colocadas pela plateia presencial e a distância, coube aos líderes das três organizações fazerem as declarações finais. Todos consideraram a X Convenção um momento importante de reflexão sobre o que já existe para o futuro da escola, sendo que Filinto Lima relembrou algo ligado ao momento particularmente sensível que o mundo atravessa: "Estamos prontos para receber alunos ucranianos, caso cheguem". Já Jorge Ascenção, que se despediu das Convenções Nacionais como Presidente da CONFAP, realçou a importância de "não se esperar pelas coisas para que aconteçam. Se esperarmos pelo Ministério da Educação nunca vai acontecer nada. Temos de ser nós. Mas a transformação já está a acontecer e temos de perceber todos se queremos ou não fazer parte dessa transformação".

Coube a João Dias da Silva, Secretário-Geral da FNE, as derradeiras palavras desta Convenção Nacional, começando por deixar "o convite a Jorge Ascenção para estar na XI Convenção, no ano que vem, de forma que mesmo sem estar na liderança da CONFAP possa contribuir para alertar consciências". O líder da FNE elogiou a presença de alunos nas Convenções Nacionais, sendo essa uma demonstração de que "o futuro está mesmo hoje a ser construído e temos de estimular o que de bom já se faz, para continuar o trabalho com autonomia e liberdade", disse a fechar a X Convenção Nacional FNE, CONFAP, ANDAEP.




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