Intervenção do Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, no encerramento da Manifestação Nacional de Professores
23 Março 2019
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Intervenção do Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, no encerramento da Manifestação Nacional de Professores 23 de março de 2019, Lisboa
Colegas Estamos hoje aqui, porque não abdicamos, estamos aqui porque temos razão, estamos aqui hoje porque não desistimos.
Estamos aqui hoje em nome de todos quantos antes de nós e de uma forma consequente lutaram por uma carreira profissional docente em Portugal prestigiada e valorizada.
Estamos hoje aqui em nosso nome e em representação de todos os docentes portugueses que todos os dias trabalham com os seus alunos por um Portugal mais qualificado, mais desenvolvido e mais justo.
Estamos hoje e aqui em nome de todos os que no futuro não nos perdoariam se não tivéssemos feito tudo no nosso tempo, pela dignificação da profissão docente.
É em nome de todos eles, de todos nós, que não desistimos.
É que o que está realmente em causa é que a questão da recuperação do tempo de serviço congelado não é uma questão isolada.
A verdade é que estamos em presença de um conjunto de medidas que não são avulsas, mas que antes obedecem à intenção de destruir o estatuto da carreira docente e por essa via tentam destruir uma perspetiva valorizada da profissão docente.
É esta destruição de uma carreira dignificada que está em causa quando se diminuem ou anulam as perspetivas de carreira a milhares de docentes, porque lhes está a ser negada a possibilidade de, por muito tempo que trabalhem, e por muito empenhados que sejam, nunca acederiam a patamares remuneratórios que têm de conduzir a uma aposentação digna e que reconheça a responsabilidade que durante a sua vida profissional lhes é exigida.
É a destruição da carreira docente que está em causa quando se proporcionam e fomentam ultrapassagens arbitrárias que envenenam as relações pessoais e profissionais, criando clivagens e conflitos não só desnecessários como injustificados.
É a destruição da carreira que está em causa quando se fazem sobrepor critérios meramente administrativos e que desconsideram a qualidade do desempenho profissional no quadro do desenvolvimento da carreira.
É a destruição da carreira docente que está em causa quando se reduzem ou eliminam direitos, quando se diminuem as condições que deveriam permitir um exercício profissional exigente e de qualidade.
É porque combatemos as tentativas de destruição da carreira docente que não desistimos.
Colegas Estamos hoje e aqui porque não admitimos que os educadores e professores portugueses não sejam dos mais prestigiados na nossa sociedade, pela formação que lhes é exigida e pela responsabilidade que lhes está atribuída para o desenvolvimento nacional.
Estamos hoje e aqui em nome de todos os educadores e professores portugueses que ainda estão sujeitos a uma precariedade inaceitável que os obriga a percorrerem diariamente distâncias enormes ou a estarem longe da família, para poderem trabalhar.
Estamos hoje e aqui em nome de milhares de docentes com quem o Estado rompeu o compromisso de lhes assegurar uma aposentação digna e que respeite o seu tempo de trabalho.
Estamos hoje e aqui porque um governo transitório e cego pela obsessão da economia, se recusa a reconhecer a importância estratégica de promover um corpo docente valorizado e mobilizado.
Estamos hoje e aqui, porque as mentiras sucessivamente propagadas quiseram e querem fazer crer que os educadores e professores portugueses querem privilégios a que outros não acedem.
Estamos aqui hoje para combater toda a desinformação com que tantos têm mentido acerca das reivindicações dos educadores e professores portugueses.
Estamos hoje e aqui para que em todo o lado se ouça e se saiba que os educadores e professores portugueses não podem ser tratados com menos consideração do que os restantes trabalhadores das carreiras gerais da Administração Pública, a quem foi reconhecido o direito à contagem de todo o tempo de serviço congelado para efeitos de progressão em carreira. Estamos hoje e aqui porque não desistimos.
Estamos hoje e aqui, sim, porque somos intransigentes, mas somos intransigentes na exigência das condições que garantam uma Educação pública de qualidade em Portugal.
Estamos aqui, sim, porque somos intransigentes na exigência de um estatuto que reconheça a nossa responsabilidade social e que por isso tem de estabelecer normas que valorizem o nosso trabalho e a nossa responsabilidade.
Sim, somos intransigentes, porque exigimos que uma educação pública de qualidade tenha ao seu serviço profissionais valorizados de acordo com as elevadas exigências que a sociedade lhes atribui.
Sim, somos intransigentes, porque não abdicamos de que a educação pública garanta uma formação integral de todos para uma sociedade mais livre, mais justa, mais democrática, mais desenvolvida, o que só ē possível com profissionais altamente qualificados e a quem são exigidas elevadas responsabilidades.
Sim, somos intransigentes, porque não admitimos que os docentes portugueses sejam desprezados.
Sim, somos intransigentes, porque não admitimos que este governo se desamarre da responsabilidade que assumiu de iniciar nesta Legislatura a reposição do tempo de serviço congelado aos docentes portugueses.
Sim, somos intransigentes, porque, pela nossa parte, e ao longo de todo o tempo destinado à negociação, tomamos iniciativas sucessivas que permitiam responder com sustentabilidade ao compromisso de reconhecer a todos os docentes portugueses o tempo de serviço que esteve congelado, sem que o governo tivesse dado um passo para cumprir o que a Lei lhe impunha que realizasse.
Sim, é porque somos intransigentes que não desistimos.
Estamos hoje e aqui, porque é preciso que se saiba que este mesmo governo que não nos valoriza cede mais depressa aos alarmes dos banqueiros do que ao reconhecimento dos profissionais que deve respeitar.
Colegas Não perdoamos mentiras, não perdoamos hipocrisias, não perdoamos desconsiderações.
Os educadores e professores portugueses têm de ser respeitados e prestigiados.
Nós cumprimos com empenho e dedicação o que são os nossos deveres.
Que os outros não deixem de cumprir as suas responsabilidades.
Aqui fica o sinal claro de que os educadores e professores portugueses não deixam serem desrespeitados e que estão disponíveis para as lutas que forem necessárias para garantir que lhes seja reconhecido o que é de direito e de justiça. E, quanto a isto, não desistimos!