Confiança e segurança são palavras-chave no começo de uma nova etapa escolar marcada por várias regras e condicionantes, no regresso ao ensino presencial. No geral, o balanço é positivo. O ano letivo 2020/2021, aguardado com tanta expetativa, começou. Filinto Lima, professor, diretor escolar, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), dá nota positiva ao arranque desta nova etapa como, em seu entender, era expetável pela “reorganização diligente das escolas por parte das direções executivas, no âmbito das suas funções”. “As regras e procedimentos adotados pelas escolas, a sensibilização para o seu cumprimento realizada junto dos alunos, bem como a participação ativa das associações de pais nestas ações preparatórias, revelaram-se decisivas para assegurar a confiança geral, imprescindível para o decurso, o mais normalizado possível, de um ano que se antevê como o mais atípico das nossas vidas”, refere ao EDUCARE.PT.
Haverá sempre aspetos a corrigir e a melhorar e essa consciência deve ser assumida com humildade. Nesta questão, Filinto Lima concorda com Marcelo Rebelo de Sousa. O distanciamento social nem sempre tem sido respeitado pelos alunos no exterior das escolas, o uso de máscara muito pontualmente tem sido negligenciado, os ajuntamentos de pais acontecem, por vezes, nas imediações dos estabelecimentos de ensino, nas rotinas entranhadas das conversas. Há todo um conjunto de regras para assimilar e cumprir.
“Comportamentos tidos e sentidos, outrora, como salutares, revestem-se de caráter menos positivo quando se almeja o evitamento da disseminação deste vírus que nos ameaça e priva da normalidade desejada. Mas, por ora, é importante fazer concessões, abdicar temporariamente desses momentos de partilha para ganharmos o futuro, e isso só será exequível se se estabelecerem sintonias e alianças”, sublinha o presidente da ANDAEP.
Os avisos são para todos e a pedagogia é importante. “Aos alunos, pede-se que priorizem a consciência cívica, num esforço elevado que alavanca uma constância de atuação, adotando os mesmos procedimentos dentro e fora do espaço escolar. Aos encarregados de educação, compreendendo a ansiedade e os receios que os assolam, que confiem nas escolas, dos lugares mais seguros onde se pode estar”. À Escola Segura pede-se que reforce a sensibilização junto dos diversos agentes das comunidades educativas para que as normas sejam cumpridas.
“Estamos todos a iniciar a jornada de um novo ano letivo, com passos seguros, conscientes de que, embora inexistindo ‘risco zero’, há claramente o desiderato de tudo fazer para que o ensino seja o mais possível, e sempre que possível, presencial, no garante máximo da igualdade de oportunidades e da equidade, de modo a que a Educação seja efetivamente o ‘elevador social’ almejado por todos”, sustenta Filinto Lima.
Para Manuel Pereira, professor, diretor escolar, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), o balanço do arranque do ano escolar é, de forma global, positivo. “O comportamento dos alunos tem sido relativamente exemplar”, diz ao EDUCARE.PT. O uso de máscaras tem sido respeitado. Há, no entanto, alguns registos a fazer. “As escolas são muito diferentes umas das outras, há umas com muito espaço, outras com pouco espaço. Há escolas onde é relativamente fácil cumprir as regras da DGS [Direção-Geral da Saúde], nomeadamente ter uma sala mãe, mas há outras onde tal não é possível”, adianta. Um ano atípico implica um processo de readaptação. “Estamos todos a aprender”, partilha. Manuel Pereira fala em angústia e ansiedade por parte de alunos, professores, pais, funcionários. É preciso gerir tudo isso, há escolas com alunos em quarentena, perguntas e dúvidas, e o apoio de pais e encarregados de educação é fundamental. “Estamos todos a tentar encontrar o melhor caminho e a cumprir todas as regras que podemos.” Para o presidente da ANDE, há confiança e trabalho feito. “As escolas preparam-se muito bem para este contexto, dentro das suas limitações. É tempo de arregaçar as mangas e trabalhar”. Há, contudo, outra questão, ou seja, a falta de assistentes operacionais. “Se faziam falta num ano normal, neste ano tão atípico e tão estranho, a sua presença é ainda mais necessária e precisamos ainda mais de ajuda”.
Condições possíveis, preocupações disfarçadas João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), também lamenta a falta de assistentes operacionais no arranque do ano letivo e destaca outros pontos. “Consideramos positivo que se tenha regressado às escolas, retomado a atividade letiva presencial. Dizia-se que o futuro ia estar nas tecnologias e provou-se que as tecnologias são complementares, são um apoio, mas não substituem as aulas presenciais”, sublinha ao EDUCARE.PT.
O regresso à escola é um ponto positivo, mas a postura da tutela merece-lhe algumas críticas. “É pena que o Ministério da Educação (ME) não tenha feito o trabalho de casa. É impensável que haja informação insuficiente, informação disponibilizada à última da hora, informação discutível”, repara. Resultado, em seu entender, do ministério não envolver os parceiros no debate e na discussão. “Há informações que trazem insegurança às pessoas porque são contraditórias”, acrescenta.
O secretário-geral da FNE aponta o dedo “à impreparação” do ME, pela falta de assistentes operacionais porque, apesar dos concursos anunciados, “as pessoas ainda não estão nas escolas”, pelo enquadramento dado aos professores de risco que têm de meter baixa. “O ME não quer utilizar estes professores, quer dispensar essa colaboração”, comenta. No geral, o foco é o mesmo neste início de ano. “Há uma preocupação de cumprir o que são as normas essenciais de proteção de saúde, procurando ter os comportamentos adequados”.
(...)
Notícia completa em
https://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=176205&langid=1