1 Setembro 2023
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Centenas de professores conseguiram entrar para os quadros do Ministério da Educação pelo novo mecanismo de vinculação, mas ainda não obtiveram colocação e terão de fazer quilómetros para se apresentar numa escola onde não ficarão a dar aulas.
Quase oito mil professores entraram este ano para os quadros, a maioria através do novo mecanismo de vinculação dinâmica, mas a pouco mais de uma semana do início do ano letivo, nem todos estão colocados.
Joana Rosas é uma de muitas docentes nessa situação. Nos últimos cinco anos, esteve a dar aulas em Lisboa, mas há cerca de um mês recebeu a notícia de que tinha conseguido vincular no quadro de zona pedagógica (QZP) próximo da sua residência, no Norte.
Apesar de ser provisório, porque no próximo ano terá de concorrer a todo o país para se fixar numa escola e não sabe onde terá vaga, ansiava a estabilidade que a vinculação lhe prometia para o ano letivo 2023/2024, mas tal não aconteceu.
“Com a vinculação, achávamos que íamos ter alguma segurança, sabendo que no próximo ano seria outra luta, mas agora acontece-nos isto”, contou à Lusa, admitindo que quando se candidatou à vinculação dinâmica não sabia que esta seria uma possibilidade e, por isso, “foi um choque bastante grande”.
Porque não está ainda colocada, na sexta-feira terá de se apresentar na escola onde lecionou no ano passado, a centenas de quilómetros. E não será a única.
De acordo com informação publicada hoje no ‘blog’ de educação “DeAr Lindo”, com base em dados da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE), há 590 professores que, na sexta-feira, têm de se deslocar à escola onde estiveram no ano passado, fora do QZP em que, entretanto, ficaram vinculados, porque não obtiveram ainda colocação.
À semelhança de Joana, a maioria é da zona norte e ficou vinculada nos QZP 1, que abrange Braga, Viana do Castelo, Porto e Tâmega, e 2, que inclui as zonas de Entre Douro e Vouga, Aveiro e Viseu.
Para muitos, a viagem será até Lisboa e Setúbal, mas há também quem tenha de ir até ao Algarve, sem saber como será a sua vida nos próximos dias.
“Enquanto não formos colocados, não sei se nos vão atribuir algum serviço na escola onde estivemos no ano passado ou não”, disse Joana Rosas, explicando que tem muitas dúvidas sobre o seu futuro nas próximas semanas, sem saber quando será colocada e o que fará até lá.
Andreia Esmeralda, que tinha abandonado a profissão, mas decidiu regressar em 2020, passou por três escolas nos últimos anos letivos. Com a vinculação no QZP 1, achava que, pelo menos este ano, poderia trabalhar perto de casa, mas não sabe se será assim.
Na sexta-feira, terá de se apresentar em Sintra. “Vou e volto no mesmo dia, mas depois tenho de ver o que nos dizem”, sublinhou, afirmando que tem também muitas dúvidas.
Em resposta à Lusa, o Ministério da Educação explicou os professores são colocados de acordo com a sua graduação profissional e que, até obterem colocação, “os docentes de carreira integrados na reserva de recrutamento sem serviço atribuído devem apresentar-se no primeiro dia útil do mês de setembro no último agrupamento de escolas ou escola não agrupada onde exerceram funções para aguardar nova colocação”.
“Esta regra, que está fixada há muitos anos em todos os diplomas de concursos de docentes, salvaguarda o processamento de vencimento mês de setembro”, acrescenta o gabinete do ministro João Costa.
Além da instabilidade inesperada, Andreia tem 75% de incapacidade devido a um problema de saúde e, por isso, chegou mesmo a escrever à DGAE, explicando a sua situação e pedindo colocação numa escola perto da residência, mas a resposta foi que teria de aguardar.
“Partimos do pressuposto que, se há um lugar para vincular, há uma vaga”, lamentou, acrescentando que a situação obriga os docentes a reorganizar a sua vida, mas com uma grande incerteza.
Exemplificou que, até ser colocada numa escola do seu QZP, e se lhe for atribuído serviço na escola onde se vai apresentar na sexta-feira, terá de arrendar casa em Sintra.
“Quando formos colocadas, em dois ou três dias temos que nos voltar a deslocar”, acrescentou Joana Rosas, explicando que, no seu caso, a situação obrigou a “uma grande alteração na vida pessoal”, uma vez que já tinha conseguido vaga para o filho num jardim-de-infância perto de casa, mas por ser mãe solteira terá de o levar para Lisboa durante um período indefinido.
Se não tivesse concorrido à vinculação dinâmica e voltasse a ser contratada, no final do próximo ano reuniria condições para entrar nos quadros através da chamada “norma-travão”. Decidiu não arriscar, mas se soubesse que hoje poderia estar a viver esta situação, teria pensado duas vezes.
Lisboa, 31 ago 2023 (Lusa)
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