Projeto conjunto da FNE, CONFAP, ANDAEP e AFIET pretende ser um instrumento proativo que conduza a uma melhoria das políticas educativas em Portugal, sobretudo no que toca à prevenção e contenção da indisciplina, da violência e do bullying
A Federação Nacional da Educação (FNE), a Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET), a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) e a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) uniram esforços e criaram o Observatório da Convivência Escolar, que vai ser apresentado esta sexta-feira, em conferência de imprensa, no Porto. O objetivo do Observatório da Convivência Escolar “não é receber queixas”, como explica à CNN Portugal Pedro Barreiros, secretário-geral da FNE.
“O objetivo é debater, apoiar estudos e investigação e fazer o acompanhamento diário de casos que forem surgindo. Com a consciência de que muitos casos de violência e indisciplina não saem da sala de aula ou dos muros da escola. Depois, queremos apresentar os resultados desses estudos e dessa investigação a quem de direito: ao Ministério da Educação, ao Ministério da Administração Interna, eventualmente ao Ministério do trabalho, à PSP, para que possam ter mais instrumentos para agirem em conformidade”, explica o dirigente da FNE.
Pedro Barreiros fala de um aumento de violência e de indisciplina nas escolas, sobretudo depois do período de pandemia. Garante que tentaram, de várias formas, alertar o Ministério da Educação para o problema, mas sem sucesso. “O Ministério da Educação nunca nos deu resposta, apresentei o desafio de podermos criar um observatório ao João Dias da Silva, da AFIET, e já temos a garantia da colaboração da ANDAEP e da CONFAP. Queremos envolver a Ordem os Psicólogos também. Na verdade, queremos alargar isto o mais possível. Trata-se de ter uma atitude proativa e ter instrumentos necessários para que possamos agir e prevenir”, acrescenta Pedro Barreiros.
Mariana Carvalho, presidente da CONFAP, manifesta preocupação pela saúde mental da comunidade escolar. “Uma das nossas preocupações é a saúde mental e emocional das crianças e jovens e os comportamentos. Sobretudo os alunos do 2.º ciclo estão muito afetados, mas também os professores. E as famílias também”, enumera.
A dirigente associativa sublinha que é preciso refletir sobre estas matérias, “percebermos as dinâmicas entre toda a comunidade educativa, percebermos os incidentes que existem”. “Se conseguirmos juntar todos os intervenientes, temos vários pontos de vista para termos outras perceções e apresentar sugestões de medidas para melhorar a política educativa”, acrescenta.
“Se estivermos mais felizes no contexto escolar, estamos mais disponíveis para aprender e vamos ter mais sucesso”, remata.
Num comunicado enviado às redações, assinado por João Dias da Silva, presidente da AFIET, em nome das quatro organizações, pode ler-se que “o Observatório da Convivência Escolar integrará no âmbito da sua intervenção, entre muitas outras medidas, o acompanhamento do recurso ao bullying e ao ciberbullying, os quais assumem hoje nas escolas uma dimensão que não pode ser ignorada, uma vez que se traduzem em comportamentos dolorosos e de difícil controlo”.
Em fevereiro, a Escola Segura, da PSP, divulgou os números de violência nas escolas. No ano passado, no primeiro semestre, foram registadas 2.617 ocorrências nos estabelecimentos de ensino, das quais 1.881 foram criminais. A maior queixa foram as ofensas corporais (855), seguindo-se as injúrias e ameaças (571) e os furtos (252).
Os especialistas alertam que as crianças estão mais violentas e pedem recursos ao Governo para reforçar os "serviços de psicologia e orientação nas escolas".
Manuela Micael, MM
CNN/TVI